29 junho 2004

bandeiras



Querem ver que sim, que as vitórias futebolísticas aumentam mesmo a auto-estima acional?
Que melhor auto-estima não era mandar este governo para a rua?

Anunciar uma eventual candiatura de Santana Lopes à presidência da República para lhe conferir a tarimba presidenciável, o currículo que não tem. Sofrer uma tremenda derrota nas eleições para o parlamento europeu e fazer o discurso de que o pior já passou. Ter o país na bancarrota e saber que vão perder as próximas legislativas. Dois coelhos numa só cajadada, ocupar o cargo mais alto nas Instiuições da UE e garantir com uma operaçao de remodelação total de governo uma campanha furiosa nos próximos dois anos de legislatura. Entretanto, Sampaio em fim de mandato não poderá no seu último semestre dissolver a AR nem tão pouco o seu sucessor no primeiro, independentemente das crises políticas que se adivinham.

26 junho 2004

Paulo Sousa

Paulo Sousa foi o melhor trinco português das duas últimas décadas (do resto não falo porque não conheço). Um mestre na ocupação do espaço, no roubo de bola, no lançamento da primeira bola para os contra-ataques, um pé direito...um portento físico. Eu sempre admirei Paulo Sousa. Revelou em várias entrevistas que, se não fosse jogador de futebol, um sonho o guiava, o magistério primário numa aldeia serrana, sem dúvida em homenagem a uma infância feliz passada entre penedos e estevas. É neste bucolismo primordial que se devem buscar as causas do vulgar erro gramatical e também numa vida passada a defender vários emblemas entre a Itália, a Alemanha e a Grécia. Camarada J., vai passear por esse Portugal e diz-me quantos jogadores de futebol profissionais encontras com as aptidões linguísticas exigíveis ao jovem licenciado urbano que tenham feito a escolaridade obrigatória (se assumir-mos que a escola daria conta do recado, o que é mais que duvidoso). Paulo Sousa é autêntico. Paulo Sousa é povo na televisão, comentando futebol com sabedoria como nenhum intelectual o faria. Eu continuo a admirar Paulo Sousa.

25 junho 2004

Deco de Caracóis, o "luso-português"

e ainda para o almanaque do lusoportuguesismo, ontem durante o jogo um comentador na RTP: póssamos e esteijamos - dois verbos maravilhosos para falar no futuro glorioso da selecção e do futuro pátrio que, nesta hora, se cruzam e confundem dolorosamente. A multiplicaçao dos urros até ao infinito mata qualquer desejo de falar,celebrar, gozar este e outros grandes jogos que vamos vendo. Toda ou a maioria das pessoas acredita que as vitórias se traduzem no aumento da auto-estima nacional, imprescindível para irmos a qualquer lado. Resta saber para onde. Será que o Lula foi eleito no rescaldo da auto-estima levantada pela selecção brasileira?

Um blog no deserto

Companheiros? Is anybody out there?

Como forma de protesto contra a bimbice histérica que a UEFA instalou na vida colectiva nacional (e nas outras também) com a colaboração dos sócios accionistas (FPF, Estado português, Sumol, Pepsi, Coca-Cola, Nike, Umbro, Adidas, fábricas chinesas de bandeiras etc - isto dava para mais três paragráfos, pelo menos), aqui declaro que vou hoje prestar a única homenagem possível ao futebol - jogá-lo.

20 junho 2004

Era mesmo fixe - derrota histórica em Alvalade

É o que desejo para a selecção nacional em Alvalade. Por 1-0 ou por 3-0, será sempre uma derrota histórica, já que alguém assumiu que durante o mês do euro2004 se abriu uma janela para o povo voltar a habitar a substância do tempo. Depois, no fim do jogo, vai provar-se que a relação destes milhões de gajos fetichistas da bandeira com o Figo e cia se aproxima da relação do promitente com o santo, no fundo, uma outra forma de viver Fátima, mais real e imediata. No fim do jogo, se tudo correr bem, será consumada a derrota, consumado o falhanço da retribuição divina. Espero e desejo que os crentes queimem o templo, para variar. Seria fabuloso ver a multidão enfurecida de frustração a destruir as bancadas de Alvalade, a saltar cordões policiais para agredir os seus santos, a queimar a bandeira. Só tenho medo da profecia porque o meu irmão vai lá estar. Oxalá siga o conselho dos mais velhos e seja o primeiro a basar quando a coisa der para o torto.

livro de estilo

Então é isto o vosso/nosso blog a três? Catita. Tenho alguns problemas por resolver, entre eles perceber porque é que estou a escrever aqui. Como isto é feito por nós para nós vou assumir que me dirijo a suas excias sempre que aqui passe. Não me sinto à vontade para armar o palanque de onde vou arengar às massas, além de me estar a cagar para as massas tanto como elas se estão a cagar para mim. Como se inserem imagens?

17 junho 2004

assina o manifesto e manda para mulheresmedicina@sapo.pt

Mulheres em medicina sim,
retrocessos não!

Apoiando as declarações do presidente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar de que deveriam existir quotas masculinas para os cursos de medicina, o senhor Ministro da Saúde fez a notável revelação:- as mulheres estão menos disponíveis para uma profissão que requer 24/24 horas, porque têm as responsabilidades domésticas e familiares.
Apraz-nos perguntar: O que dirá o senhor ministro das enfermeiras e das auxiliares de saúde ? Serão as mulheres que trabalham na área da saúde menos competentes e empenhadas que os seus colegas homens? O que faz o senhor ministro pensar que as responsabilidades familiares só têm de recair sobre as mulheres?

Estranha e não imbuída de ingenuidade ou de razões paritárias surge a actual preocupação sobre o défice de homens nos cursos de medicina. Para quem nunca se preocupou com qualquer sistema que garantisse o equilíbrio de representação de género no poder político estas recentes motivações são pouco claras. E, importa, de novo, perguntar: - as mulheres representam 45% dos médicos (2001), mas qual a percentagem de mulheres em cargos de direcção nos serviços hospitalares e nos centros de saúde? O défice é muito grande mas será que constitui motivo de preocupação para os actuais convertidos à causa das quotas?

Há posições que revelam intenções de retrocessos civilizacionais inadmissíveis como seja o de limitar o acesso das mulheres a profissões qualificadas até agora dominadas por "lobbies masculinos", porque elas devem continuar a ter como principal missão a casa e a família.

Há declarações que não podem ficar incólumes quando partem de membros responsáveis do governo. As declarações do ministro da saúde colidem com o texto da Constituição da República Portuguesa (artigos 13º, 36º e 68º).

Deste modo, exigimos que o senhor ministro da saúde se retrate e que os grupos parlamentares da Assembleia da República, órgão de soberania a quem compete a responsabilidade de "apreciar os actos do governo" exijam junto do Ministro da Saúde esclarecimentos sobre as suas declarações. Caso contrário, só resta uma saída digna - a demissão do Ministro da Saúde.


Adélia Pinhão (médica); Alice Frade (antropóloga); Alice Martins (jurista); Almerinda Bento (professora); Ana Augusta Matos (Bióloga); Ana Campos (ginecologista); Ana Matos Pires (médica); Ana Monteiro Ferreira (investigadora); Ana Silva Pinto (médica); Ana Sara Brito (enfermeira); Cláudia Conceição (docente e investigadora na Escola Nacional de Saúde); Clara Queiroz (Bióloga); Conceição Nogueira (professora universitária); Diana Andringa (jornalista); Elisabete Brasil (jurista); Fernanda Henriques (professora universitária); Filomena Delgado (jurista); Fina D' Armada (historiadora); Guiomar Favinha (administrativa); Helena Costa Araújo (professora universitária); Cecília Eira (médica); Helena Pinto (animadora sócio-cultural); Helena Lopes da Silva (cirurgiã); Isabel Allegro de Magalhães (professora universitária); Isabel do Carmo (médica); Isabel Cruz (técnica sup. da adm. local); Isabel Rebelo (técnica de intervenção social); Isabel Vinhas (médica); José Hipólito dos Santos (economista); José Miguel Silva Pinto (médico); Laura Fonseca (professora universitária); Lígia Amâncio (professora universitária); Luís Sousa (arquitecto); Luisa Corvo (Bio-química); Manuela Tavares (professora); Maria José Alves (médica-ginecologista); Maria José Magalhães (professora universitária); Maria José Mestre (professora); Margarida Amélia; Paula Botelho Gomes (professora universitária); Rita Domingues (antropóloga); Teresa Cunha (professora); Teresa Joaquim (professora universitária); Teresa Pinto (investigadora); Dimitilde Gomes /advogada); Ana Pina Cabral (Advogada)



16 junho 2004

investimentos

A organização do euro2004 investiu, como não podia deixar de ser, em merchandizing. Pagou para isso a uma empresa que entende destas coisas e por isso criaram um boneco tão tonto como o gil da expo, o quinas. Devia esperar-se uma receita importante do investimento mas o quinas repousa incólume em prateleiras de papelarias e semelhantes. A receita fugiu toda para o fulgor da bandeira verde e vermelha made in China e exportada de Inglaterra para cá. O nacionalismo é bonito, fica bem à janela. As janelas portuguesas também são bonitas. Tantos séculos de negócios não ensinam grande coisa a não ser que, pelo sim pelo não, é sempre melhor o Estado chegar-se à frente nas ideias e nos prejuízos.

08 junho 2004

euros

E tu, também sentes a crise do pilim a avolumar? Não pode um gajo já encher o depósito, pão e leite para o pequeno almoço, o jornal e a bica, sem ter de gastar mais do que irá ganhar nesse dia. Bendito seja o verão. Pode um gajo pôr de lado a folha do cartaz do jornal, deixar as sardinhas assadas para o ano, fumar menos, andar de transportes sem pagar, não pagar a conta da net, e ainda assim consolar-se com a cidade luminosa e consolar-se em não ir votar.