20 abril 2007

PNR - boa viagem!

Encontro de fachos em Lisboa cancelado. Afinal parece que os nazis não andam tão à vontade quanto isso. Interessante e a reter é verificar que, com a prisao de 11 pessoas por posse ilícita de armas e propaganda nazi, um encontro convocado pelo PNR é cancelado. A relação fica evidente para quem podia ter dúvidas. Cantem o hino de braço esticado e gritem viva Portugal e Hitler e Salazar. Fazerem-no no recato dos vossos lares se não for à frente das crianças parece-me óptimo. Se quiserem vir para a rua, pois então, agora concorrer a eleições? Fazer listas para associações de estudantes? Isso parece mais obsceno que coleccionar tacos de baseball.

18 abril 2007

da areia para o mar

Não gosto deste azul.
Pelo menos aqui.
Mas era preciso arrumar um pouco a casa.
Agora o que queria
era o meu querido amarelo beje de volta.
E as ligações vão regressar a seu tempo.

12 abril 2007

sobre Carmona,a câmara, a cidade

Rui Tavares sublinha o mais importante da atitude de limpeza zelosa por parte da CML que nos deixou estupefactos. O mais importante, onde fica a cidade pública, política, espaço dos cidadãos? Cidadãos em Lisboa não há nenhuns enquanto cidadania não puder ser feita cá.


[Público, 09 abril 2007]

Um país de ironias

Para pagar os favores que deve às empresas, a CML é relaxada. Para os cidadãos fazerem política ou cultura ou arte a CML é rigorosa.
Para os leitores que não vivem na capital, vamos contextualizar: na maior parte dos dias, não se dá pela existência da Câmara Municipal de Lisboa [CML]. Quando ela se faz notar, é invariavelmente pelas más razões.
Quando a CML desperta da sua hibernação, a suspeita é que vem aí disparate. E na sexta-feira passada (um feriado!) a CML decidiu fazer horas extraordinárias para confirmar essa suspeita. Por uma vez, nesta cidade onde um prédio pode cair antes de uma folha de papel transitar entre gabinetes, a CML foi célere.
E nesta cidade entupida de poluição visual, a CML foi célere para arrancar talvez o único cartaz de grandes dimensões que recebeu os louvores quase unânimes de todo o país, da esquerda à direita: a sátira dos “Gatos Fedorentos” ao cartaz racista do PNR ali ao lado.
(Digo “quase unânime”, porque os racistas reagiram mostrando a sua face, com ameaças de violência física e a divulgação do endereço do colégio onde estuda a filha de um dos humoristas. Como sempre, estes cobardes incitam ao ódio na esperança de que alguém faça o trabalho sujo.)
Enfim: durante uma semana, o país discutiu qual seria a resposta adequada aos racistas. Quando os “Gatos Fedorentos” no-la deram de forma brilhante, esta CML a quem nunca se viu grande queda para o legalismo decidiu que não constituindo eles um partido político, a sua mensagem era publicidade. Neste raciocínio binário só há partidos que fazem propaganda ou empresas que fazem publicidade. Todos nós outros que andamos aqui, cidadãos deste país, eleitores, contribuintes e consumidores, somos parentes menores.
É verdade que a lei prevê regimes diferentes para a propaganda partidária e para a publicidade. Mas isso acontece para impedir as empresas de tomar conta de todo o espaço público, não para dificultar a intervenção cívica. Ora o cartaz dos “Gatos Fedorentos” pode não ser propaganda partidária mas não é certamente publicidade; é antes enquadrável como intervenção artística e deveria ser interpretada com a folga que a lei permite.
Reparem que esta é uma obsessão particular de Carmona Rodrigues: em plena crise da sua vereação saiu para a rua de mangueira em punho para arrancar cartazes de bandas rock. Só que é uma obsessão estranha para quem preside à principal poluente visual da capital e das suas praças emblemáticas, desde o tempo em que Santana Lopes encheu a rotunda com imagens do Marquês defendendo a construção de um túnel, até aos enormes cubos que o Casino de Lisboa colocou por todo o lado, até às massivas esferas da Volkswagen que pagaram a iluminação de Natal. Sob qualquer pretexto até no Terreiro do Paço a CML deixa instalar objectos publicitários de mau gosto. A diferença é que essas empresas contaram com o beneplácito de uma câmara falida. A CML vê o espaço público como um activo publicitário e fonte de receitas. A rua é dela apenas; serve para alugar às empresas e tolerar os partidos. Qualquer outro cartaz – desde o anúncio de uma banda amadora até aos “Gatos Fedorentos” ridicularizando os racistas – é concorrência desleal.
Para pagar os favores que deve às empresas, a CML é relaxada. Para os cidadãos fazerem política ou cultura ou arte a CML é rigorosa.
Resta somente apreciar mais esta genial ironia de um país de ironias, cuja capital é governada por Carmona Rodrigues, engenheiro. É um engenheiro a sério, daqueles com diploma e carteira da ordem. Não percebe é rigorosamente nada de cidades, de liberdade ou de política.

07 abril 2007

O nazismo e César das Neves

Uma associação de luta pelos direitos das lésbicas, gays, bissexuais e trangenders, iniciaram um processo aqui há um par de anos contra João César das Neves, esse energúmeno conhecido pela extrema religiosidade com que encara economia e mercado financeiro. O processo tinha como razão o seu discurso de incitamento ao ódio contra um grupo minortário na sociedade. Igualava gays a pedófilos, o que não é fazer outra coisa que comparar negros a perigosos assaltantes ( que é proibido justamente porque se incita o ódio a determinados grupos da população).
O processo não deu como provado que César das Neves tenha feito referências directas aos visados (a associação em si) mas sim aos homossexuais em conjunto- como se este conjunto pudesse representar-se num advogado e numa queixa. Não deve haver muita gente que não se lembre das enormidades que lhe jorram da caneta, ou da mão, ou seja lá por que órgao donde deus lhe permtiu pensar e a nós castigar-nos por qualquer pecado ao termos de o ouvir.
Esta decisão de um tribunal chega numa altura em que um cartaz racista e xenófobo está plantado em Lisboa sem que haja lei que o impeça.
Os discursos de ódio estão à solta e não há lei que nos venha sossegar a consciência ao jantar ou mesmo no almoço da Páscoa. Ou acreditamos que o código é válido e trabalhamos para o melhorar ou acreditamos que o código só corresponde à validade ideológica na sociedade donde emana e encerra. A lei é morta e não melhorará o mundo. 50 anos depois do Holocausto há nazis pela Europa fora com o à vontade do padeiro que entra ao serviço.

Site da Opus Gay