28 julho 2008

Um instante de liberdade

Cada instante de liberdade é preciso construí-lo e defendê-lo como um reduto. Representa um estado de esforço alegre e doloroso: alegre porque dá ao homem a consciência do seu valor, e doloroso porque lhe exige trabalho nos dias de paz e a vida nas horas de guerra. A escravidão é feita de descanso e de tristeza.
Teixeira de Pascoaes
não sei onde, cito uma citação

21 julho 2008

Zion Edições


[...] Na busca e recensão das explicações normalmente encontradas para a crise em que se encontra a economia mundial, de há umas décadas a esta parte, ficamos quase sempre com a ingrata sensação de estarmos permanentemente a reabrir portas, que apesar de aparentemente escancaradas, nos levariam ou a lado nenhum ou a sítios já conhecidos.
Temos assim, em primeiro lugar, as explicações que nos dizem que, em última análise, as causas das várias crises que o sistema tem atravessado (e esta também...) seriam sempre de carácter externo ao próprio sistema. Não, nunca por nunca, por causa da sua lógica intrínseca de funcionamento. Por exemplo, na crise de múltiplos contornos que agora vivemos com mais alguma intensidade, se sobem os preços de «tudo e mais alguma coisa» (designadamente dos cereais e dos combustíveis), a culpa é da China, onde se terá decidido, há uns anos a esta parte, que também eles queriam e tinham direito a níveis de consumo mais elevados. Aumenta a procura, logo, aumentam os preços e portanto
está tudo explicado. Teríamos então assim uma indesejada coexistência de desemprego estrutural (as deslocalizações...) com uma inflação resultante do aumento da procura (por parte dos chineses...), ficando portanto incólume e isenta de quaisquer responsabilidades a
lógica intrínseca do sistema capitalista. Vem de muito longe esta tradição de atribuir as culpas das crises do sistema capitalista a causas primárias que são supostas serem externasao funcionamento do próprio sistema [...].
Já no que diz respeito às ocorrências da crise ao nível de cada país, algumas explicações parecem ser de índole «internalista» (como é o caso da explicações monetaristas), mas em rigor acabam por ser também de carácter «externalista», na medida em que a culpa é facilmente (enfim, já não tanto...) atribuída aos outros (países). É o caso de algumas
explicações relativas às dificuldades de exportações por parte de países da Eurolândia. A culpa é da desvalorização do dólar, que faz com que as exportações cotadas em euros se tornem muito caras... A inflação que vamos tendo na Europa é por causa da «subida dos preços do petróleo». Os preços do petróleo sobem por causa da «guerra do Iraque». Tudo causas externas ao sistema. Se não fossem essas causas«externas», o sistema até que não tinha crises, a não ser de breves conjunturas.De entre as explicações para a crise de índole «monetarista»encontramos também aquelas que tendem a remeter as causas para os factores de decisão endógenos a cada país e depois, aí, para as alegadas ou verdadeiras indisciplinas orçamentais. No pólo oposto do combate ideológico (e científico...) pelo rigor ou
pertinência explicativa encontramos as explicações de carácter «marxista», «estruturalista» ou ainda de tipo «institucionalista». Em alguns destes casos encontram-se referências a fenómenos que estariam na origem das crises em geral e também desta em particular, nomeadamente o «acumular de contradições» ou o «bloqueio do sistema»...


Guilherme da Fonseca-Statter - Mecanismos de formação das crises económicas
Impacto no processo de acumulação

para continuar a ler em Shift, publicação online que acompanha e Monthly Review - edição portuguesa em Zion Edições

17 julho 2008

A liberdade só pode ser edificada sem interesses particulares e na base de nada

Vamos a uma parte polémica destas considerações, que eu acrescento, que é a de que a história, desde sempre confirma esta realidade do acontecimento. Ora o que é o acontecimento ? Em primeiro lugar ele diz-nos ( e todos concordamos com isso) que nada chegou ao fim nem chega (por isso Badiou cultiva o infinito que retira da matemática de Cantor, como coisa não teológica, mas autoconsistente e construtível). Se nada chegou ao fim tudo pode ainda ser inventado, quer dizer, não se trata de dizer como irá ser a alternativa de vida futura à democracia actual, mas sim que o acontecimento é inevitável (desde Spartacus que a política de emancipação se repete incessantemente).

Continue a ler Carlos Vidal sobre Alain Badiou no blogue de Augusto Seabra

15 julho 2008

Polítólogos



Nos últimos tempos têm sido presença nos media alguns politólogos (a maioria do ICS como é o caso do exemplo que trazemos). É a eleição de Ferreira Leite, é a estreia de Rangel à frente da bancada do PSD, tudo merece uma breve entrevista a um punhado de investigadores da política para saber a sua opinião. Eu imaginava que estes politólogos perdiam o seu tempo de uma forma mais estimável reconheço. Também estranho porque se substituem estas opiniões às de jornalistas ou demais comentadores com opinião. Parece uma operação de cleanização. No caso de Pedro Magalhães, ontem convidado mais uma vez a comentar uma sondagem (Católica) para o Jornal 2, a situação ainda é mais caricata. Não só organiza sondagens -critérios, perguntas, abordagens -como comenta e interpreta os dados a partir de uma sensação muito particular em intuição de sexto sentido?). Ex: Os portugues perceberam muito bem que esta crise se insere numa crise global (a crise do petróleo) e por isso sabem que este governo ou qualquer outro pouco ou nada pode fazer.

12 julho 2008

Era uma vez o Espaço


Lá em cima
há planícies sem fim
Há estrelas
que parecem correr
Há o sol e a Any[?] a nascer

Nós aqui sem parar
numa terra a girar

Lá em cima
há o céu de cetim
há cometas
há planetas sem fim
Galileu
teve um sonho assim
Há uma nave no espaço
a subir passo a passo
Galileu
teve um sonho assim

Lá em cima pode ser o futuro
a alegria
vamos saltar o muro
e a rir
unidos com um abraço
vamos contar uma história
Era uma vez o Espaço

lala lalalalala lalalalalal



Lá em cima
já não há sentinelas
sinfonia
toda feita de estrelas
uma casa sem portas nem janelas
É estenderes o braço e tocares o espaço

09 julho 2008

O futuro ainda é o que era

Fui ao Braço de Prata ver o colóquio Esquerda: uma política para o gosto? inserido na iniciativa 1001 culturas organizado pelo Miguel Portas. A ausência de Manuel Gusmão, justificada pelo monolítismo estéril que grassa pela direcção do pcp, e o atraso descontraído de 45 minutos, a dar a ideia de que estes encontros de fazem entre amigos, não augurava nada de bom. Não fosse a comunicação de António Guerreiro e nada de bom tinha de facto acontecido. Manuela Ribeiro Sanches apresentou um texto tão certo e redondo e generalista que podia ser lido num colóquio sobre alterações climáticas, alimentos trangénicos,a comunidade guineense em Roterdão ou a política de emigração da Europa. Apesar de António Guerreiro ter sido o único a trazer uma comunicação no âmbito do tema, propondo inclusive que este fosse alterado para uma política do gosto em vez de para ogosto, dados os mal entendidos que este para pudesse sugerir, ainda recebeu no final, por parte do moderador Miguel Portas e da outra conferenciasta a opinião de que o que tinha ali trazido sobre esquerda e direita na literatura era desprovido de interesse (interesse operativo no dizer de Portas). Disse Ribeiro Sanches, o que me interessa e o que é importante hoje são as migrações,o multiculturalismo, as relações com o Outro... Estes dislates permitem-me concluir ou ser levada a concluir que, longe de querer organizar um ciclo de debates e conferências sobre as 1001 culturas, Miguel Portas deveria ter organizado um ciclo de reuniões entre militantes e simpatizantes onde pudessem discutir as tácticas ou estratégias para a cultura (1001 novesforazero). Poupava os seus convidados ouvirem que o seu pensamento ou conhecimento não tem interesse e poupava umas quantas pessoas de irem ao engano.