18 dezembro 2009

José Sá Fernandes e a remodelação dos jardins de Lisboa

"O gosto do rei exige que as árvores e as plantas do seu jardim estejam dispostas em grupos regulares e fáceis de abarcar com o olhar, tal como os cortesãos durante o cerimonial cortês. As copas das árvores e os ramos dos arbustos devem ser talhados de forma a apagar quaisquer vestígios de um crescimento desordenado e selvagem. As áleas e os patamares floridos devem reflectir a mesma elegância e a mesma clareza das construções régias. Na arquitectura dos palácios e dos jardins, na harmonia perfeita entre as partes e o todo, na elegância de linhas de decoração que é em tudo semelhante à elegância dos gestos e movimentos do rei e dos cortesãos em geral, na maginificiência e nas dimensões das construções e dos jardins que serviam -independentemente da sua utilidade prática - para a autorepresentação do poder real, encontramos uma imagem mais fiel dos ideais do rei que na sua maneira de controlar e submeter os homens. (...) O gosto de Saint-Simon fá-lo sentir-se mais atraído pelo jardim à inglesa, que concede maior liberdade ao crescimento dos arbustos, das árvores e das flores; o jardim inglês corresponde ao gosto da classe superior de uma sociedade na qual o rei e os seus representantes nunca conseguiram instaurar por muito tempo um regime autocrático ou absolutista"



Norber Elias, A Sociedade de Corte, Lisboa, Editorial Estampa, 1995, pp.195-196.




Divulgo o texto de Tiago Taron que, julgo, deixa muito claro os processos através ou atrás dos quais se decidiu alterar radicalmente a fisionomia da maior parte dos jardins de Lisboa. Processos que demonstram que o controlo de gestao (democrática?) do território,na pequena como na grande escala, é risível. Os instrumentos são meramente formais (quando é efectivo o uso desse poder como o IPPAR e a câmara do Porto àcerca do tunel em frente ao Museu Soares dos Reis não tem consequências- o presidente continuou a obra, não sofreu sanções e foi reeleito com maioria absoluta). Assumamos que a equpa de espaços verdes tinha esta sagacidade e intrepidez e assume um novo modelo estético para os jardins da cidade -um modelo que está na moda na arquitectura paisagística - para além de não contarem com a participação de ninguém (quem vive com os jardins de perto uma vida inteira por exemplo) e com isso atirarem para o lixo as ideias de esquerda como é o orçamento participativo e o apelo à população para que participe nas escolhas da cidade, para além disto tudo pelos vistos a crise nao afecta os espaços verdes na cidade. Ou mudar os jardins todos na cidade fica mais barato que requalificar aqueles que precisam. Isto faz sentido?





17 dezembro 2009

Seis do Nove

A terra tremeu não porque a partir de hoje o casamento passa a ser um direito para homossexuais, mas porque este blogue celebra seis anos. Não é um terramoto mas é bom estar ligado às oscilações telúricas quando não mesmo ao magma do planeta. Parabéns ao assédio, Parabéns ao país.



09 dezembro 2009

Excelentes notícias

Depois de décadas sem destino o Museu de Arte Popular vai deixar de ser um fantasma à beira-rio. O edifício, em vias de classificação, é um notável testemunho da arquitectura modernista portuguesa onde trabalharam e deixaram marca muitos dos artistas desse período. Devolver-lhe a função original é assumir, num mundo cada vez mais mundializado, que o Museu Nacional de Etnologia deixa espaço, e que todo o espaço não será demais, à existência de um Museu vocacionado para a protecção do património popular. Sem os paternalismos e o discurso fascizante do Estado Novo sobre o bom e humilde povo português. Sem, por outro lado, cristalizar num entendimento obsoleto da museologia, mas sim colocar em contacto, e dar novas vidas e novos olhares ao nosso património popular. Há museus que trabalham, de forma notável, esta realidade a nível local (Museu do Trabalho em Setúbal, Museu de Íhavo).
Este anúncio a juntar ao assumir da insuficiência dos 0,3% do orçamento para a Cultura colocam altas -onde se querem- as expectativas na recém-chegada ministra Canavilhas.

06 dezembro 2009

SOS Azulejo

Um espaço que sempre idealizei mais ou menos com estas valências tomou forma através do projecto SOS AZULEJO. Aqui, para além de ficarmos a conhecer como proteger e tratar um dos aspectos mais curiosos e interessantes da história da arte portuguesa, ficamos também alertados para os imensos riscos que corre e, encontramos um espaço comum, com interlocutores vários (incluindo a polícia judiciária) para detectar situações de risco e cuidarmos em conjunto do que (nos) é caro. E promovem iniciativas de conhecimento e aprofundamento de conhecimento insubstiuíveis e imperdíveis.