16 dezembro 2013

O fracasso socialista de Mandela, por Slavoj Žižek

"(...)Dois factos são sistematicamente apagados nesta visão de celebração. Na África do Sul, a maioria pobre continua a viver praticamente como vivia nos tempos do apartheid, e a ‘conquista’ de direitos civis e políticos é contrabalançada por violência, insegurança e crime crescentes. A única mudança é que onde havia só a velha classe governante branca há agora também a nova elite negra. Em segundo lugar, as pessoas já quase nem se lembram que o velho Congresso Nacional Africano não prometera só o fim do apartheid; também prometeu mais justiça social e, até, um tipo de socialismo. Esse ANC muito mais radical do passado está a ser gradualmente varrido da lembrança. Não surpreende que a fúria esteja outra vez a crescer entre os sul-africanos pretos e pobres A África do Sul, quanto a isso, é só a mesma versão repetida da esquerda contemporânea. Um líder ou partido é eleito com entusiasmo universal prometendo “um novo mundo” – mas então, mais cedo ou mais tarde, tropeçam no dilema chave: quem se atreve a tocar nos mecanismos capitalistas? Ou prevalecerá a decisão de “jogar o jogo”? Se alguém perturba esse mecanismo, é rapidamente “punido” com perturbações de mercado, caos económico e o resto todo. Por isso parece tão simples criticar Mandela por ter abandonado a perspetiva socialista depois do fim do apartheid. Mas ele chegou realmente a ter alguma escolha? Andar na direção do socialismo seria possibilidade real? (...) Se quisermos permanecer fiéis ao legado de Mandela, temos de deixar de lado as lágrimas de crocodilo das celebrações e focar-nos em todas as promessas não cumpridas infladas sob a sua liderança e por causa dela. Assim se verá facilmente que, apesar da sua indiscutível grandeza política e moral, Mandela, no fim da vida, era também um velho triste, bem consciente de que o seu triunfo político e a sua consagração como herói universal não passavam de máscara para esconder uma derrota muito amarga. A glória universal de Mandela é também prova de que ele não perturbou a ordem global do poder".

16 novembro 2013

Jeremy’ Hammond Sentencing Statement | 11/15/2013


Good morning. Thank you for this opportunity. My name is Jeremy Hammond and I’m here to be sentenced for hacking activities carried out during my involvement with Anonymous. I have been locked up at MCC for the past 20 months and have had a lot of time to think about how I would explain my actions.
Before I begin, I want to take a moment to recognize the work of the people who have supported me. I want to thank all the lawyers and others who worked on my case: Elizabeth Fink, Susan Kellman, Sarah Kunstler, Emily Kunstler, Margaret Kunstler, and Grainne O’Neill. I also want to thank the National Lawyers Guild, the Jeremy Hammond Defense Committee and Support Network, Free Anons, the Anonymous Solidarity Network, Anarchist Black Cross, and all others who have helped me by writing a letter of support, sending me letters, attending my court dates, and spreading the word about my case. I also want to shout out my brothers and sisters behind bars and those who are still out there fighting the power.
The acts of civil disobedience and direct action that I am being sentenced for today are in line with the principles of community and equality that have guided my life. I hacked into dozens of high profile corporations and government institutions, understanding very clearly that what I was doing was against the law, and that my actions could land me back in federal prison. But I felt that I had an obligation to use my skills to expose and confront injustice—and to bring the truth to light.
Could I have achieved the same goals through legal means? I have tried everything from voting petitions to peaceful protest and have found that those in power do not want the truth to be exposed. When we speak truth to power we are ignored at best and brutally suppressed at worst. We are confronting a power structure that does not respect its own system of checks and balances, never mind the rights of it’s own citizens or the international community.
My introduction to politics was when George W. Bush stole the Presidential election in 2000, then took advantage of the waves of racism and patriotism after 9/11 to launch unprovoked imperialist wars against Iraq and Afghanistan. I took to the streets in protest naively believing our voices would be heard in Washington and we could stop the war. Instead, we were labeled as traitors, beaten, and arrested.
I have been arrested for numerous acts of civil disobedience on the streets of Chicago, but it wasn’t until 2005 that I used my computer skills to break the law in political protest. I was arrested by the FBI for hacking into the computer systems of a right-wing, pro-war group called Protest Warrior, an organization that sold racist t-shirts on their website and harassed anti-war groups. I was charged under the Computer Fraud and Abuse Act, and the “intended loss” in my case was arbitrarily calculated by multiplying the 5000 credit cards in Protest Warrior’s database by $500, resulting in a total of $2.5 million.My sentencing guidelines were calculated on the basis of this “loss,” even though not a single credit card was used or distributed – by me or anyone else.


28 outubro 2013

A Voz do Dono

A não eixar de ver um blogue onde se apresenta esmiúça denuncia partilha a voz do dono nos media no nosso país neste momento.

23 outubro 2013

Dia 26 Sábado



A sensação é de anestesia, qualquer coisa como o stress pós-traumático. Evitamos pensar demasiado, em tudo o que envolva a nossa vida comum. É demasiado. Inimaginável. Quem poderia supôr nestes três anos tudo que o se passou. Não só dos orçamentos e políticias deste governo (e do anterior) mas das formas e dos meios. Das gigantescas operações de corrupção, assistida e amparada por quem detém os instrumentos públicos de poder, que são públicos numa teoria a que é arrancada, aos minutos, a sua efectividade. A amnésia, ou o deixar de lembrar cada ponto e cada explicação são os remédios, para a maioria, para que seja possível continuar a viver e a passear com os filhos pelo jardim. Os 48 anos de ditadura mais os 30 de democracia à Cavaco cavaram fundo esta ideia de que o governo das coisas não cabe a cada um de nós. 
E que podemos ou devemos aspirar à sobrevivência recorrendo às cartas que nos sairam no jogo. Aspirar portanto ao melhor possível dentro deste mundo e não noutro, humano mas ideal. Como se este ou outro mundo qualquer não resultasse de todas as cartas em jogo ao mesmo tempo, como quando se fala na Europa como uma entidade fora de nós. 
Para que o torpor não vença e para que nos lembremos sempre desse humano por vir, para que o cansaço não nos faça esquecer que é possível, em cada momento, vislumbrá-lo e resgatá-lo. Não há saída sem ser a que possamos construir colectivamente. A primeira saída tem de ser a deste governo e de todos os que se perfilham para seguir as pisadas da austeridade. 

18 outubro 2013

Amanhã em Alcântara

FAZER PONTES, OCUPAR A RUA, PARAR O PORTO DE LISBOA

por bloqueioportolx

No dia 19 de Outubro vamos bloquear o terminal de Alcântara do Porto de Lisboa, após a concentração da CGTP às 15h, em Alcântara. Vamos interromper a circulação de mercadorias no principal terminal de transporte marítimo de Portugal. Vamos apoiar a greve em curso dos estivadores.
Queremos parar um processo de precarização, reforçando a luta concreta no porto de Lisboa. Queremos fazer crescer outras lutas, noutros sectores da economia, noutras áreas da vida. Queremos dizer bem alto que o problema é a exploração e a acumulação obscena de recursos por uns poucos. Queremos dizê-lo numa linguagem que não possa mais ser ignorada. Queremos parar a economia e colocá-la nas nossas mãos.
O porto de Lisboa é uma plataforma comercial de dimensão internacional, europeia e atlântica, e um dos pontos mais evidentes da campanha de desvalorização do trabalho e também da resistência que a ela se opõe. Esta luta, a nossa luta, é internacional.
Os protestos do dia 19 de Outubro são uma escalada na luta, que deverá continuar até 26 de Outubro na manifestação do Que Se Lixe a Troika e por aí fora. Vem para a rua. Traz as tuas capacidades, as tuas dúvidas, a tua revolta. Vamos transformar a rua numa força em comunicação com todas as lutas, do trabalho ao desemprego, das pensões à miséria.
Esta é uma convocatória aberta e múltipla. Esta é uma convocatória sem porta-vozes nem dirigentes. Esta convocatória é de quem a apanhar

14 outubro 2013

Vai estudar Catarina?

António Costa porta-se como um reizinho no seu pequeno grande reino, depois do último resultado eleitoral em Lisboa, a tendência não será para melhorar. Favoreceu, nos dois últimos mandatos, a cidade do capital, da especulação, favoreceu modelos urbanos para turista ver que deram tristes resultados em muitas cidades por esse mundo fora. Deu à mesma empresa negócios de gentrificação imobiliária com encaixes financeiros de muito curto prazo na câmara e de difícil previsão na longa vida da cidade. Alcântara, lx factory, cais do sodré, martim moniz. Distribui prebendas. Catarina Portas, com os seus quiosques "muito típicos" e "portugueses" abriu mais uma loja, neste caso junto ao gabinete do presidente da câmara, no recém investimento do Largo do Intendente, a nova praça trendy da cidade, em busca do cosmopolitismo que se destrói na baixa e no martim-moniz. Diz-nos que "consumir é um acto político", e tem razao. Apoiou, como muita gente da cultura, a candidatura da Margarida da Abraço, da lista de António Costa, a uma das novas mega-juntas da zona.

"Foi por isso que decidiu abrir aqui uma loja?
Soube, de uma forma curiosa [fofinha], que os antigos armazéns da Viúva Lamego estavam para arrendar: na inauguração da exposição da Joana Vasconcelos, em Versailles, António Costa perguntou-me se queria arrendar uma loja no Intendente. Andei a pensar na vida [fôoooofa], um pouco aflita porque a altura não é a melhor e abrir uma loja de 500 metros quadrados num sítio como o Intendente...Pensei muito no investimento, não queria endividar-me demasiado.
Vir para aqui é um risco? É um risco calculado[se nao é mesmo fôfa], mas também há alguma loucura. Até hoje, tive cuidado. Comecei o negócio com mil euros, fui reinvestindo o que ganhei, e é assim que temos crescido". in Visão, 03.10.13

É a vida portuguesa no seu esplendor.

27 setembro 2013

Egipto - partido comunista

The Muslim Brotherhood implemented the same policies on the continuation of the privatization program and the liberalization of prices, and did not raise the minimum wage even though it was one of the first demands of the revolution. They even reduced the taxes on businessmen, continued the privatization of services and refused to implement the health insurance program. They insisted on selling and mortgaging the assets of Egypt and its institutions through the project of "Islamic bonds" which they rushed to pass in the Shura Council [the upper house of parliament] controlled by Muslim Brotherhood. The most dangerous position was their refusal to pass the law to ensure freedom to form unions, which they had agreed upon with all political forces and trade union currents before the revolution, and replaced Mubarak’s men in the government-controlled General Union of Egyptian Workers with their own men (...) Those who have ousted Morsi are more than 22 million citizens of the Egyptian people who signed a document containing the signatory’s name, ID number (national ID) and the name of the province, written by hand rather than on the Internet, in an unprecedented referendum that was culminated in the “big coming out" in main squares by more than 27 million demonstrators on 30th June 30, continuing for four consecutive days. It was Morsi who overthrew legitimacy when he issued his dictatorial constitutional declaration in November 2011. It was Morsi who devastated human rights when his terrorist supporters besieged the Constitutional Court, when his militia tortured protesters in front of al-Ittihadyah Palace [the presidential palace]as shown by investigations carried out by the public prosecutor office, and when his men killed demonstrators in front of the headquarters of the Freedom and Justice Party (the political arm of the Muslim Brotherhood) in accordance with explicit orders from the leader of the group and his deputy, as the killers confessed before the public prosecutor. It was Morsi who reneged on the promises he had announced on the day he succeeded to amend the Constitution and form a coalition government. He and his group insisted on submitting to the conditions of the International Monetary Fund, and also declared Jihad on Syria at a conference of terrorist jihadist forces without referring to the army and the National Defense Council. Therefore, all the political parties and forces, and even the Salafi al-Nour Party, which jumped from the ship before it sank, have supported early presidential elections. This call is not a coup against democracy, rather it emanates from the heart of popular democracy when any president betrays his promises to the people and his program on the basis of which the people had elected him. To limit the cause of democracy to just the "ballot box" is a complete plunder of the essence of democracy and an explicit rejection of the right of peoples to revolt against their autocratic rulers and the fascist regimes that use religion to hide their reactionary nature and right-wing capitalist orientation. The defending of Morsi by the United States and Western capitalist states and portraying the issue as just a "military coup" against "constitutional legitimacy" is a formal position that hides the fact that world imperialism is terrified by peoples’ revolutions and their ability to transcend the narrow confines of the democratic bourgeoisie which represents, in essence, the optimal form to fulfill the interests of big businessmen and monopolies and their local agents in controlling the destiny of peoples in Third World countries. (...) Nevertheless, we are keen for the need to be alert and pay attention during the next phase to ensure that the military's role in this stage is limited to the protection of the people and the Egyptian national security and to abide by its promises not to interfere directly in political affairs, and the need for the people to remain in the squares to ensure the implementation of their demands in the transitional phase. (...) The arrival at this critical point led to the overthrow of Morsi and the intervention of the army in a manner that serves the objectives of the revolution at this stage. It is noteworthy that this is the first time that the Egyptian army has disobeyed America’s orders because it has realized the nature of the big dangers that would plague itself and the homeland if it declines to support the revolution. The national and democratic forces realize that the army’s leaders have interests and privileges which they want to preserve, and they also want to have a role in power without a direct political interference. We believe that this has to be taken into account at this stage with emphasis on correcting things gradually during the next phase. Entrevista con el camarada Salah Adli, Secretario General del Partido Comunista Egipcio por "Nameh Mardom", órgano del Tudeh

19 setembro 2013

Inquérito na Europa sobre as relações entre a EDP e o Estado Português

COMUNICADO DE IMPRENSA- COMISSÃO EUROPEIA EM PORTUGAL Lisboa, 18 de setembro de 2013 Auxílios estatais: Comissão abre inquérito aprofundado a concessões sobre recursos hídricos à EDP para a produção de eletricidade e investiga a situação noutros Estados-Membros A Comissão Europeia deu início a um inquérito aprofundado para verificar se o preço pago em 2007 pelo operador português encarregado da distribuição de eletricidade, a EDP, pela extensão do seu direito de usar os recursos hídricos públicos para a produção de eletricidade se encontrava em conformidade com as normas em matéria de auxílios estatais da UE. A Comissão apreciará, em especial, se a medida proporcionou uma vantagem económica indevida à EDP relativamente aos seus concorrentes, limitando a entrada no mercado da ele tricidade em Portugal. O lançamento de um inquérito aprofundado proporciona aos terceiros interessados uma oportunidade de apresentarem as suas observações sobre a medida, sem prejudicar o resultado do próprio inquérito. Em 2007, Portugal alargou as concessões facultadas à EDP para a utilização de recursos hídricos públicos para a produção de eletricidade, contra o pagamento de 759 milhões de euros (dos quais 56 milhões de euros reverteram para impostos). Esta medida, que nunca foi notificada à Comissão para exame de eventuais auxílios estatais, traduz-se na manutenção de 27 centrais elétricas, que representam 27 % das capacidades de produção do país, sob o controlo da EDP por um período de tempo muito longo, só terminando, em certos casos, em 2052. Com base nas informações disponíveis nesta fase, a Comissão tem dúvidas de que a EDP tenha pago um preço adequado pelas concessões. Tal poderá ter dado à EDP uma vantagem seletiva que os seus concorrentes não tiveram, configurando, assim, um auxílio estatal na aceção das normas da UE (artigo 107.º, n.º 1, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE)). Nesta fase, a Comissão duvida de que esse auxílio fosse compatível com o mercado interno da UE. Além disso, a longa duração da concessão pode ter tido, em si mesma, um efeito anticoncorrencial, impedindo a entrada de concorrentes interessados no mercado da eletricidade português. O inquérito irá permitir à Comissão obter a informação necessária para a apreciação da medida. A Comissão solicitou também informações preliminares da parte de outros Estados-Membros sobre as normas e práticas que regem a conce ssão ou a extensão das concessões para a utilização de recursos hídricos para produção de energia hidroelétrica. Antecedentes Em setembro de 2012, vários cidadãos apresentaram à Comissão uma denúncia contra um alegado auxílio estatal ilegal, concedido por Portugal à EDP através de duas medidas distintas: em primeiro lugar, a extensão das concessões de utilização de recursos hídricos públicos, alegadamente em condições favoráveis e, em segundo l ugar, as compensações alegadamente excessivas por investimentos anteriores que teriam sobrecarregado a EDP no enquadramento de mercado liberalizado («custos ociosos»). O mecanismo de compensação dos custos ociosos havia sido avaliado e inocentado pela Comissão ao abrigo das normas da UE sobre auxílios estatais (ver IP/04/1123). Com base nas informações disponíveis nesta fase, nada prova que os auxílios aprovados para a compensação dos custos ociosos tenham sido mal utilizados ou deixado de ser compatíveis com o mercado interno. A Comissão deu hoje início a um inquérito aprofundado, a fim de verificar as alegações relativas ao preço demasiado baixo pago em 2007 pela EDP para a extensão das concessões para a utilização dos recursos hídricos públicos. A versão não confidencial da decisão será publicada no Jornal Oficial da União Europeia e disponibilizada no âmbito do processo SA.35429 no State Aid Register (registo dos auxílios estatais) no sítio Web (competition) da DG Concorrência da Comissão assim que as questões confidenciais tenham sido resolvidas. As novas publicações de decisões sobre auxílios estatais na Internet e no Jornal Oficial são indicadas no sítio Web State Aid Weekly e-News. Para mais informações sobre assuntos europeus:http://ec.europa.eu/portugal

18 agosto 2013

Jornalismo histórico

Luís Almeida Martins assina um artigo que faz a capa da Revista Visão nº1066, Marquês de Pombal o Homem que resgatou Portugal. Contornando outro paradoxo que é a escolha das capas da Revista Visão chegamos a este que é o facto do autor ser o editor da Visão História, e aparentemente, ser formado na disciplina apesar de ter dedicado desde os anos 70 ano jornalismo (currículo aqui). As sete páginas dedicadas ao Marquês de Pombal, para além de se situarem no campo de conhecimentos mais rudimentar do que aquele a que são sujeitos alunos do ensino básico, para além do mau gosto da pena e da visão telenovelesca e redutora das personagens e contextos históricos, contém incorreções várias (o padre Malagrida não foi queimado vivo) e omissões grosseiras (não refere que o padre Malagrida foi a última vítima do Tribunal do Santo Ofício), o Marquês não se tornou um pioneiro dos estudos em sismos por ter feito um questionário à população de Lisboa, o Marquês ordenou um questionário a todas as paróquias do país. Este tipo de pormenores, facilidades, revela uma falta de cuidado e respeito pelos leitores da revista. Revela também uma falta de "visão" sobre o que é divulgação científica, neste caso, em história do país. A revista que empresta rigor e critérios na sua investigação jornalística, caso do recente trabalho de Paulo Pena, devia igualmente exigir noutras áreas, nomeadamente também quando se encomenda uma notícia sobre Amadeo de Sousa Cardoso a propósito da exposição na Gulbenkian. Quando não se conhece o tema para quê inventar? Mais vale dar espaço às palavras de quem conhece e fazê-lo bem, o que já não é pouco na imprensa das artes.

Adenda: Luis Almeida Martins respondeu `a reclamação dizendo que se pretendia um artigo de verão com uma leitura "amena". E que foi responsável por muita divulgação em História, enquanto editor de História da revista Visão e enquanto director da ex-Revista História. Saudei a sua iniciativa mas disse-lhe que invenção e alteração de factos não são sinónimo de leitura amena e que comprometem a leitura do texto completo. Não houve resposta.

12 agosto 2013

Crítica da Crítica - O bom governo de Portugal

Uma das coisas eticamente mais condenáveis é a calúnia, ainda por cima se gratuita. O governo de Portugal tem sido injustamente caluniado e vilependiado na praça pública, sendo apelidado, a maior parte das vezes, de incompetente. Os críticos mais moderados elevam pensamentos de sublime compreensão, quase um “Pai, perdoai-lhes, não sabem o que fazem!” Outros, talvez mais arrivistas, pedem a cabeça do Presidente da República, do Primeiro-Ministro e de outros membros do Governo. Também corre por aí à boca cheia que este governo não passa de um bando de garotos incompetentes com um senhor já de cabelos brancos à mistura, senhor esse que, apesar da idade que aparenta, ainda não passou as crises próprias da adolescência. Devem referir-se ao ilustre Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, o qual destoa bastante no meio da garotada. O texto que se segue tem por objectivo por fim à calúnia e ao insulto injustos, demonstrando a elevada competência e a sublime inteligência do bom governo de Portugal.

10 julho 2013

A crise dá muito lucro

A “crise” politica forjada por Portas/Passos que lhe permitiu obter o controlo do governo com o objetivo de levar para a frente a politica de destruição do Estado e, nomeadamente, das suas funções sociais, que é o seu grande desejo para as entregar aos privados, possibilitou aos especuladores obter elevado lucros. Como se sabe a taxa de juro dos títulos da divida portuguesa disparou com a “crise”, e o valor dos títulos, por essa razão, caiu significativamente no mercado secundário, o que permitiu aos especulares adquirirem divida portuguesa neste mercado a um preço que correspondeu, em muitos casos, apenas a 67% do preço nominal dos títulos. Para se poder ficar com uma ideia dos valores transacionados no mercado secundário basta dizer que em Maio de 2013 (ultimo dado disponível) atingiu 3.270 milhões €. E agora com a “reanimação” da coligação PSD/CDS que estava moribunda, e agora agonizante devido ao descrédito total, a taxa de juro dos títulos portuguesas baixou, e o valor dos títulos no mercado secundário aumentou, o que permite aos especuladores, se venderem os títulos que adquiriram durante a “crise” a preços muito mais baixos, embolsar milhões € de lucros especulativos (mais do que recebem milhares de trabalhadores e pensionistas durante meses), e ainda por cima sem ter de pagar qualquer imposto. Para além deste lucro especulativo, esta “chantagem dos mercados” foi depois utilizada pelos defensores da coligação (CE, BCE, troika, Barroso, presidente da República, defensores nos media, etc.) para “impor” a reconciliação entre o PSD/CDS, a fim de continuar a política de destruição da economia e a sociedade portuguesa. Os prejuízos da banca que os media falaram tanto para amedrontar a opinião pública são falsos pois não são reais mas apenas potenciais e a razão de um novo resgate só poderá ser a gigantesca divida pública que o Estado não poderá pagar e não esta crise de opereta entre Passos Coelho e Portas. Eugénio Rosa, Economista, edr2@netcabo.pt , 7.7.2013

08 julho 2013

Raquel Freire

Do ridículo: "depois do inferno por que passei, a mim, ninguém me dá lições de moral. fica-vos mal". Da auto-promoção: cresci com o Álvaro, a dormir em minha casa, o próprio, as imitações são só isso, imitações são para mim, propaganda", "se lerem o meu livro trans iberic love está lá tudo"... Da demogagia: "onde estavam quando eu fui censurada pelo governo do relvas e da troika? quando fui censurada em janeiro de 2012, e perdi o trabalho, fui executada ilegalmente pelo governo do passos e portas, depois de ter denunciado o ministro da segurança social na minha crónica na antena 1, depois de ter denunciado este governo e as execuções ilegais que ele estava a fazer axs precárixs? perdi a minha casa, fiquei sem dinheiro para comer, para dar de comer ao meu filho". Raquel Freire, realizadora, vivia das crónicas de um programa de rádio? Perdeu outros trabalhos por causa do seu activismo? Ou perdeu os mesmos trabalhos que perdeu e perde a sua geração, todos os dias, critique o governo em crónicas de rádio ou não. O texto original aqui

02 julho 2013

Aqui tem gente - Leonor Areal -2013

"Portugal, Europa, 2011. Às portas de Lisboa, um bairro de lata está em vias de ser demolido. A Câmara Municipal de Loures parece firme na sua decisão, mas não apresenta soluções alternativas de alojamento. Enredo Na iminência de ficar sem tecto, os moradores do Bairro da Torre organizam-se para negociar com a Câmara e defender o seu direito à habitação, num processo com avanços e recuos, derrotas e vitórias. As mulheres assumem um papel central na defesa da casa e da família. No Bairro da Torre coexistem etnias sobretudo ciganas e africanas, e imigrantes que chegaram nos anos 90 para as grandes obras do regime. A crise atirou-os para o desemprego e a miséria. Agora batem-se pelos seus direitos e dignidade humana. Aqui Tem Gente acompanha o processo negocial, os problemas e conflitos desta população que, embora anarquicamente, consegue organizar-se e lutar pelos seus direitos. O documentário levanta ainda outras questões. Qual o papel dos activistas no apoio à organização da comunidade? Que política de habitação social para o actual momento de crise?"

Todo o activismo político que não vise diminuir ou suprimir a distância que existe entre governo e governados não passa de activismo que ajuda a manter, de muitas e enviesadas formas, a situação existente.
Este é o primeiro pensamento que suscita o filme de Leonor Areal. O segundo é o do valor em trazer para a luz do dia a vida daqueles que, pela sua condição, não só não têm acesso aos instrumentos políticos do governo das suas vidas, como destas se faz escuridão nos espaços onde o poder da comunicação nos entretém (ou menos ou mais do que isso). Esta visibilidade, ironia, é trazida pela activista realizadora que acompanha os activistas que se dedicam à causa dos moradores deste bairro de lata pelo seu direito à habitação.
[são 23h30 e começa na rtp2 um big brother do canal público de televisão, o canal da cultura, um programa em que algumas personagens são metidas numa casa com características que a casa da maioria dos telespectadores não tem e nunca terá e num momento em que o país atravessa um dos seus momentos de maior pobreza, com milhares de famílias falidas sem poder pagar as suas próprias casas, cujos créditos as instituiçõs bancárias autorizaram].
Sem o trabalho dos activistas, pessoas estranhas ao bairro entenda-se porque também os há dentro do bairro como no filme se descobre, a realizadora talvez não fosse filmar as reuniões dos moradores e o processo de resistência que a ordem de despejo origina. Dir-me-ão que sem o contributo dos activistas fora do bairro esse processo não acontecia. Mas o início da contestação marcado pela invasão da Câmara faz com que a edilidade receba cerca de oito membros representantes do bairro, são obrigados a negociar pela força da população, querem um ou dois interlocutores e as pessoas presentes na ocupação exigem mais, recebem oito, só uma é uma activista não moradora. Que acontece de seguida? Segunda reunião agendada e com quantos? Com uma pessoa, a activista não moradora que segue depois para o bairro para contar como foi a reunião. Se não é neste passe e neste momento que tudo se perde é quase porque a partir daqui só por artes mágicas podemos imaginar a força no prato da balança que nos interessa. O destes moradores. Segue-se um comunicado de imprensa que cai nas mãos dos moradores numa manif.para a qual foram convocados pelos activistas extra bairro, que não se esqueceram de colocar em contexto e explicar aos moradores como e o que fazer .
O bairro da Torre é uma lição, na voz e  papel das mulheres, as africanas principalmente, mas quando activistas e uma moradora tenaz tenta aproximar os ciganos, desconfiados desta bondade, são também as mulheres, na maioria, quem dialoga e quem aparece.
O filme de Leonor Areal não invade a vida da comunidade, não é demagógico, não nos explica ou tenta enquadrar no contexto do que é um bairro de barracas, a sua história particular, está ali como testemnha atenta do que se vai passando e ganhando a confiança das gentes. É um bom exercício, difícil, encontrar o ponto, subtil, onde se dá voz às pessoas e ao que vai acontecendo sem que a voz ou o olhar de quem olha se sobreponha. Ficamos a meio da história, como os próprios moradores que adiaram na maioria a destruição das suas casas mas que não vislumbram, muito menos agora, muito menos agora, o dia em que possam sair dali ou que ali seja melhor, em que a sua casa possa fazer parte da Cidade. Ou que a Cidade seja o seu bairro, o nosso.
(Cidade: na estreia deste filme estiveram presentes dois moradores que disseram que não veio mais gente porque é demasiado caro e dificil vir do bairro a Lisboa à noite para ver um filme) 

23 maio 2013

Obama e Guantánamo e o terrorismo



•Número atual de presos em Guantánamo: 166

•Presos com acusações pendentes:6
•Presos cuja liberdade imediata foi garantida, mas que continuam sob custódia: 86
•Detentos de Guantánamo em greve de fome: 103
•Detentos em greve de fome que foram forçados a comer: 30
•Prisioneiros que morreram em custódia: 9
•Crianças detidas pelos EUA em Guantánamo: 21
•Presos julgados em um tribunal civil: 1
•Presos sem direito à liberdade pois não podem ser julgados devido a falta de provas ou tortura: 50
•Prisioneiros libertados pelo governo Bush: 500+
•Prisioneiros libertados pelo governo Obama: 72
•Custo anual da prisão aos cidadãos dos EUA: US$150 milhões
•Dias passados desde que Obama prometeu fechar Guantánamo: 1580
•Dias passados desde que os prisioneiros chegaram em Guantánamo: 11 anos, 4 meses, 12 dias


Números disponíveis na petição online da Avaaz


Actualização das posições de Obama sobre a luta contra o terrorismo:
 
"Falando concretamente sobre os drones, o presidente disse que tais ataques são não apenas legais como também mais eficazes e um dos meios menos violentos de combater os terroristas que representam um perigo constante em terras remotas e sem lei, para além do alcance dos governos.
"Os drones já causaram baixas civis de "despedaçar o coração", admitiu, sublinhando que mesmo assim são mais seguros do que as alternativas, quando uma intervenção armada de tropas americanas no terreno pode causar mais mortes entre civis inocentes ou ainda desencadear uma crise internacional".
 




13 maio 2013

A lata de Helena Roseta não tem limites

A vereadora da câmara municipal de Lisboa para as áreas da Habitação; Desenvolvimento Social, Gebalis, Comissão Arbitral Municipal, escreveu um texto a semana passada no jornal Público que termina da seguinte forma: "É este o desafio que proponho para os próximos anos em Lisboa – mobilizar o município, a Rede Social, a sociedade civil, os recursos humanos, técnicos e financeiros necessários e sensibilizar as comunidades de bairro e de vizinhança para encontrar respostas dignas e humanas ao alcance daqueles de entre nós que, pelas mais diversas razões, se encontram na condição de “pessoas sem abrigo”. E não me digam que não há dinheiro: a única coisa que falta mesmo é humanidade."

Quatro anos depois de assumir funções nesta área a vereadora vem solcitar a mobilização o município (!) para a resposta a problemas que não só existiam quando esta candidata independente assumiu o lugar no executivo de António Costa como dependem de forma muito directa da sua acção à frente da Gebalis e das políticas inexistentes para a habitação em Lisboa. Helena Roseta já nos habituou a este comportamento, em alturas de recolher apoios o seu discurso inflama e comove as pedras da calçada, nas outras faz exactamente o contrário das suas pregações de esquerda e de mulher independente e, ao fazê-lo -e nisto reside uma das suas particularidades- não disfarça um certo prazer. Nunca esquecer o texto que fez acompanhar o desalojo da Rua de S. Lázaro, onde vários activistas foram detidos de forma violenta, nesse texto a vereadora dizia aos ocupantes do imóvel municipal que eles estavam a impedir que famílias verdadeiramente necessitadas fizessem uso do edifício devoluto... O imóvel em questão esteve fechado mais de dez anos até à ocupação e assim continua depois desta acção tão cínica como violenta de Helena Roseta. A alguns meses das eleições acordou para os sem-abrigo, eu não diria que a humanidade é a única coisa que (lhe) falta mas também.

03 maio 2013

Já o amava antes de chegar aqui

"O meu humanisno é socialista, o que para mim significa que é o grau mais elevado, porque universal, do humanismo; se não aceito a alienação que necessita de manter o capitalismo para atingir os seus fins, muito menos aceito a alienação que resulta da obediência aos aparelhos burocráticos de qualquer sistema, por muito revolucionária que pretenda ser. Creio, com Roger Garaudy e Eduardo Golstücker, que o fim supremo do marximo não pode ser outro que não o de proporcionar à raça humana os instrumentos para alcançar a liberdade e a dignidade que lhe são consubstanciais; isto entranha uma visão optimista da história, como se vê, contrariamente ao pessimismo egoísta que justifica e defende o capitalismo, triste paraíso de uns poucos à custa de um purgatório, quando não de um inferno, de milhões e milhões de desfavorecidos.
Em todo o caso, o meu conceito de socialismo não se dilui num humanismo tíbio tingido de tolerância; se os homens valem para mim mais do que os sistemas, entendo que o sistema socialista é o único que alguma vez pode chegar a projectar o homem no sentido do seu destino autêntico; parafraseando o famoso verso de Mallarmé sobre Poe (regozijo-me o horror dos literatos que lerem isto), creio que o socialismo, e não a vaga eternidade anunciada pelo poeta e pelas igrejas, transformará o homem no próprio homem. Por isso rejeito qualquer solução baseada no sistema capitalista ou no chamado neocapitalismo e ao mesmo tempo rejeito a solução de qualquer comunismo esclerosado e dogmático; creio que o autêntico socialismo está ameaçado por ambas, que não só não representam soluções como também adiam, cada uma à sua maneira, e com fins diferentes, o acesso do homem autêntico à liberdade e à vida".

J.Cortázar (1969), Papéis Inesperados, pp.226-227, Cavalo de Ferro, 2o10


27 abril 2013

Parágrafo para ler mais do que uma vez com a lenta projecção interior da voz.

"A mentalidade científica quer que tudo tenha explicação, incluindo o maravilhoso. O que havemos de fazer, talvez seja assim; mas então, mal se aceita resignadamente esta suposta conquista total da realidade, o maravilhoso volta de pequenas coisas, o insólito resvala como uma pequena gota de água ao longo de um copo de vidro e aqueles que merecem o comércio com essas presenças mínimas esquecem a sapiência e a consciência e passam-se para o outro lado e fazem coisas como por exemplo escutar a tosse de uma senhora alemã".

J.Cortázar, "A Tosse de uma Senhora Alemã" em Papéis Inesperados, Cavalo de Ferro, 2010.

12 abril 2013

Na morte da amiga de Pinochet



por ALFREDO BARROSO

Morreu Margaret Thatcher, uma das principais responsáveis pela contra-revolução neoliberal que há mais de 30 anos vem devastando os regimes democráticos ocidentais, deformando a economia, tornando as sociedades democráticas cada vez mais desiguais, destruindo a coesão social, impondo o «casino da especulação monetária» e a ditadura dos mercados financeiros globais que hoje mandam em nós.Morreu, além disso, a amiga de Pinochet, um dos ditadores mais sanguinários e corruptos da América Latina, que permitiu que o Chile se tornasse banco de ensaio das políticas ultraliberais preconizadas pela famigerada «escola de Chicago» e levadas a cabo pelos «Chicago boys», apadrinhados por Milton Friedman e Friederich von Hayek, figuras tutelares do pensamento de Margaret Thatcher, além da mercearia do pai. Não faço esta acusação de ânimo leve. São factos conhecidos, designadamente a sua acendrada admiração por Augusto Pinochet, como se projectasse nele aquilo que ela desejaria impor, mas nunca conseguiria, na velha democracia inglesa. Há muitas fotos em que aparecem ambos sorridentes, lado a lado, quer quando o ditador estava no poder, quer quando o detiveram em Londres na sequência do pedido de extradição efectuado pelo juiz espanhol Baltazar Garzon, que o acusou de ser responsável, durante a ditadura, pelo assassínio e desaparecimento de vários cidadãos espanhóis.Esta mulher a quem chamaram «dama de ferro», como poderiam ter chamado «de zinco» ou «de chumbo», nutria um profundo desprezo pelos grandes intelectuais ingleses do seu tempo, designadamente Aldous Huxley, John Maynard Keynes, Bertrand Russell, Virgínia Woolf e T. S. Eliot, conhecidos como o «círculo de Bloomsbury» (do nome do famoso bairro londrino de editores e livreiros e de boémia intelectual). A frustração dela perante o talento e a inteligência que irradiavam deles, e que ela não conseguia captar, levaram-na a considerá-los «intelectuais estouvados, que conduziram o Reino (Unido) pelos caminhos nada recomendáveis da segunda metade do século XX». Ao diabo as «literatices» da «clique de Bloomsbury», dizia ela. «O meu Bloomsbury foi Grantham» (onde o pai tinha a famosa mercearia) (…) Para compreender a economia de mercado, não há melhor escola do que a mercearia da esquina». Deve ser por isso que as mercearias estão a falir…Thatcher considerava «a distância entre ricos e pobres perfeitamente legítima» e proclamava «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia. A verdade dos números é, no entanto, bastante diferente. Como salienta John Gray, um dos mais importantes pensadores contemporâneos, na Grã-Bretanha da chamada «dama de ferro» os níveis dos impostos e das despesas públicas eram tão ou mais altos, ao fim de 18 anos de governos conservadores, do que quando os trabalhistas deixaram o poder, em 1979. Ao mesmo tempo, nos EUA de Ronald Reagan, co-autor da «contra-revolução neoliberal», o mercado livre e desregulado destruiu a civilização de capitalismo liberal baseada no New Deal de Roosevelt, em que assentou a prosperidade do pós-guerra.Convém dizer que John Gray, autor de vários livros editados em português, entre os quais Falso Amanhecer (False Dawn), chegou a ser uma das figuras dominantes do pensamento da chamada «Nova Direita», que teve uma grande influência nas políticas que Thatcher pôs em prática. Mas ficou desiludido e alarmado com as terríveis consequências dessas políticas e tornou-se um dos críticos mais lúcidos e implacáveis dos «mercados livres globais», cuja desregulação tem causado os efeitos mais perversos nas sociedades contemporâneas, provocando a desintegração social e o colapso de muitas economias. O capitalismo global parece funcionar, segundo Gray, de acordo com as regras da selecção natural, destruindo e eliminando os que não conseguem adaptar-se e recompensando, quase sempre de maneira desproporcionada, os que se adaptam com sucesso. Estas são, logicamente, as inevitáveis consequências do pensamento de Thatcher, ao pôr em prática «as virtudes da desigualdade social» como motor da economia.A pesada herança de Margaret Thatcher, tal como a de Ronald Reagan - adoptadas não apenas pela direita ultraliberal, mas também por uma certa esquerda neoliberal (Tony Blair, Gerhard Schröder e alguns discípulos da Europa do Sul, designadamente lusitanos) - é esta crise brutal em que a UE e os EUA estão mergulhados há já cinco anos. E o mais terrível é que é o pensamento dos principais responsáveis por esta crise que continua e prevalecer na maioria dos governos que prometem acabar com ela à custa da austeridade, do empobrecimento dos cidadãos e do confisco dos seus direitos sociais.


Lisboa, 8 de Abril de 2013

03 abril 2013

Consultórios nos museus

Museu Nacional do Traje

Consultório de Museus todas as 4ª feiras
Realização: 4ª feira, das 15h – 17h

Condições de participação; Máximo 2 peças

Tipologia de materiais: traje

Inscrição: prévia, ao cuidado de Dina Dias: dinadimas@mntraje.dgpc.pt
217 567 820



Iniciativa alargada a outros museus (Lamego, Portimão). Excelente, os museus ao serviço da comunidade e do património fora de si.

19 março 2013

Demitir o Governo e demitir esta Europa

COMUNICADO DE IMPRENSA


Lisboa, 15 março 2013
Declaração da CE, do BCE e do FMI sobre a Sétima Missão de Avaliação em Portugal

Equipas da Comissão Europeia (CE), do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) estiveram em Lisboa de 25 de fevereiro a 14 de março para a sétima avaliação trimestral do programa de ajustamento económico de Portugal. Em termos gerais, a execução do programa continua no bom caminho, no contexto de condições económicas difíceis. O objetivo estabelecido para o final de 2012 em matéria de défice orçamental foi cumprido, a estabilidade do setor financeiro foi preservada e a execução de um vasto leque de reformas estruturais está a avançar. O ajustamento externo excedeu as expectativas. O Governo voltou a emitir obrigações de dívida pública, enquanto melhoraram as condições de financiamento do mercado interno. Ao mesmo tempo, o enfraquecimento da procura das exportações, em especial por parte da zona euro, a falta de confiança e a dívida acumulada do setor privado estão a provocar ventos contrários à atividade económica que se têm revelado mais fortes do que fora previsto. Tal como nas avaliações precedentes, as opções políticas e a execução do programa foram reavaliadas em função das novas circunstâncias.Embora a recessão seja mais profunda do que o esperado, ainda se prevê uma recuperação para o final do ano. O crescimento real do PIB diminuiu acentuadamente no último trimestre de 2012, tendo o PIB real decaído 3,2 % em 2012. As projeções apontam agora para que a atividade económica decresça 2,3 % em 2013, com a economia a regressar a um crescimento para o final do ano, vindo a crescer 0,6 % em 2014. Refletindo a redução da atividade, o desemprego poderá atingir um máximo superior a 18 %. As perspetivas de crescimento mais fracas exigem um ajustamento da trajetória do défice orçamental. O défice orçamental atingiu 4,9 % do PIB em 2012. O tratamento estatístico de determinadas transações, tal como a concessão dos aeroportos (ANA), resultará porém num défice nominal mais elevado. Embora o Governo esteja empenhado em respeitar uma trajetória em matéria de despesas amplamente coerente com o ajustamento orçamental estrutural, conforme previsto anteriormente, um crescimento inferior e níveis de desemprego mais elevados reduzirão as receitas e aumentarão as prestações sociais. A fim de permitir o funcionamento de estabilizadores orçamentais automáticos, o Governo solicitou – e as equipas da CE, do BCE e do FMI concordaram – a revisão dos objetivos em matéria de défice de 4,5 % para 5,5 % do PIB em 2013, e de 2,5 % para 4 % do PIB em 2014. O objetivo em matéria de défice para 2015 (2,5 % do PIB) ficará abaixo do limite de 3 % do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Os novos objetivos em matéria de défice serão apoiados por um esforço de consolidação permanente, bem orientado e baseado na despesa. O Governo está a proceder a uma revisão completa e transparente das despesas públicas a fim de identificar possíveis poupanças capazes de permitir o cumprimento os objetivos em matéria de défice para 2013-2014. Estas medidas visam a racionalização e modernização da administração pública, a melhoria da sustentabilidade do sistema de pensões e maiores reduções de custos em todos os ministérios. Para consolidar a credibilidade da trajetória revista do défice orçamental, o Governo está empenhado em adotar e publicar nas próximas semanas uma versão detalhada do quadro orçamental de médio prazo, permitindo assim a conclusão formal da presente avaliação. As reformas do setor público continuarão a reforçar a gestão financeira, a combater a evasão fiscal, a reestruturar as empresas públicas e a reduzir os custos das parcerias público-privadas. Os riscos associados à estabilidade financeira estão sob controlo, mas as restritivas condições de crédito impostas às PME viáveis continuam a ser preocupantes. A recapitalização do setor bancário foi concluída, as condições de financiamento e de liquidez dos bancos continuaram a melhorar e o reforço do quadro da supervisão e resolução bancárias está quase concluído. Foram criados novos mecanismos para a reestruturação das dívidas das empresas e das famílias, que assumem cada vez maior importância, embora a sua eficácia necessite de ser acompanhada com atenção. Ao mesmo tempo, apesar da melhoria do acesso aos mercados de dívida internacionais por parte do Governo, das grandes empresas e das instituições financeiras, as condições de crédito continuam a ser difíceis, em particular para as PME, que se confrontam com elevadas taxas nos empréstimos bancários. Entre as medidas adicionais para assegurar um financiamento adequado às PME viáveis encontra-se uma avaliação da eficácia das linhas de crédito garantidas pelo Estado, o desenvolvimento de um mercado de papel comercial para as PME e a melhoria da partilha de informações sobre a qualidade do crédito graças ao registo central de créditos. A execução de reformas estruturais destinadas a eliminar os estrangulamentos que limitam o crescimento e a criação de postos de trabalho está a avançar. A revisão da legislação, com vista a reduzir o pagamento de uma indemnização por despedimento, irá promover a eficácia do mercado de trabalho e a criação de emprego. As reduções de custos portuários bem como a eliminação dos encargos administrativos e em matéria de concessão de licenças irão reduzir custos de funcionamento das empresas. A lei-quadro das atividades regulatórias reforçada e as reformas do setor dos serviços, em conformidade com as diretivas da UE, aumentarão a concorrência nos setores dos bens não transacionáveis. Os trabalhos preparatórios para uma reforma profunda do imposto sobre o rendimento das sociedades estão no bom caminho. Os principais objetivos dessa reforma são a simplificação da estrutura excessivamente complexa do imposto, a redução dos custos de cumprimento da legislação bem como dos custos administrativos, e a redução gradual da taxa do imposto. As reformas judiciais, em especial em matéria de processo civil e da organização dos tribunais, que visam desobstruir o sistema judicial, estão a avançar. No entanto, os resultados pretendidos com as reformas estruturais (crescimento sustentável e criação de emprego) só se estão a concretizar à medida que as reformas são aplicadas de forma eficaz e levadas até ao fim.

A presente sétima missão de avaliação confirma que a execução do programa está a progredir; e o processo de regresso em pleno ao mercado está em curso. Em reflexo de uma taxa de crescimento mais baixa e dos novos objetivos em matéria de défice, a dívida pública atingirá agora um máximo de 124 % do PIB, permanecendo sustentável. As autoridades estão empenhadas em cobrir as necessidades de financiamento suplementares resultantes dos objetivos em matéria de défice orçamental revistos, incluindo através das receitas das privatizações. Desde que as autoridades continuem na via da execução rigorosa do programa, os Estados-Membros da zona euro declararam estar dispostos a apoiar Portugal até se conseguir um regresso pleno aos mercados. O prosseguimento firme da execução do programa e o ajustamento previsto dos prazos de vencimento dos empréstimos do FEEF e do MEEF a fim de aliviar o perfil de amortização da dívida apoiarão o regresso do Governo ao financiamento pleno nos mercados em 2013. O amplo consenso político e social continua a ser um importante fator do êxito do programa.O programa do Governo é apoiado por empréstimos da União Europeia, no montante de 52 mil milhões de euros, e do FMI, ao abrigo do Mecanismo Alargado de Financiamento, no montante de 26 mil milhões de euros. A conclusão da presente avaliação poderá ter lugar em maio, dependendo da aprovação do ECOFIN e do Eurogrupo bem como do Conselho de Administração do FMI, e permitirá o desembolso de 2,0 mil milhões de euros (1,3 mil milhões da UE e de cerca de 0,7 mil milhões do FMI). A missão conjunta para a próxima avaliação do programa está prevista para maio de 2013.

11 março 2013

Os auto-golos de Daniel Oliveira

"A opção europeísta - com a qual ideologicamente simpatizo - tem o problema de depender de outros (sabendo-se que as principais mudanças dependem de uma unanimidade na Europa). Sobretudo, de conseguir convencer os eleitorados do norte da Europa, que ainda não sentem na pele a crise, de que o futuro da União depende de abdicarem da situação segura em que por enquanto se encontram. A opção soberanista tem dois problemas: não pode ignorar os riscos políticos de uma saída do euro e não pode escamotear os efeitos imediatos de tal opção, que passam pela certeza de um primeiro impacto bastante acentuado na economia e nas condições de vida das pessoas. Seja qual for a opção, ela é composta de enormes perigos. Não vejo é qual seja a terceira via. O que me parece pouco sério é que se continue a contestar o caminho da austeridade fugindo a este debate. "

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/ou-federalismo-ou-saida-do-euro=f792649#ixzz2NH6UFZTh
Uma pessoa lê o Daniel Oliveira sobre um artigo de Ricardo Paes Mamede e vai por ali fora acompanhando o pensamento deste economista e no fim percebe que Daniel Oliveira é aquele jogador espalhafatoso que goleia a própria baliza. Se esta conclusão fosse encontrada num blogue de um anónimo lutador anti-austeritário estaríamos todos bem, mas ela é escrita por alguém que vive disto, ou seja, o seu tempo profissional é para ler e pensar nisto. A opção europeísta tem o problema de depender dos outros? Deixa ver, antes da Europa dependíamos de nós?  Economicamente nunca e politicamente quem é este nós e os outros? A democracia tem esta chatice de depender dos outros, onde quer que eles estejam (ex: nunca um governo no nosso país dependeu de mim para ser eleito e todos fizeram a minha vida depender das suas opções, deve ser isto que DO chama de soberania, será?).  E depois a opção soberanista, que não se percebe qual é mas que acarreta os riscos de sairmos do euro. Ou seja, para Daniel Oliveira os países não podem ser soberanos e europeístas ao mesmo tempo. Talvez DO devesse chamar ao debate quem consiga ver não uma terceira mas vias de facto.

25 fevereiro 2013

Governos patrioticos e Portugal soberano e desenvolvido

Miséria de tempo em que a maioria da esquerda acha que a pátriazinha e o "interesse nacional" servem de refúgio político... Pobre do Marx que, sempre que possível, era contra tudo o que pudesse desenvolver os mecanismos mais arcaicos de desenvolvimento capitalista... Miséria de tempo que à pala da justíssima luta contra a política de austeridade, há quem não se importe de aceitar "aliados" que se estiverem num governo de esquerda apostariam tudo no que chamam de "ruptura com a integração europeia" em prol de uma saída nacionalista.

E neste ponto, não sendo iguais, porque as únicas forças políticas na europa que defendem uma saída do euro e a fragmentação nacional são os fascistas e os leninistas? A esta interrogação pertinente há quem prefira dizer que tudo isto é coincidência... Outros preferem ir-se interrogando racionalmente sobre o assunto. Se não existe um livre arbítrio, o arbítrio da maioria da esquerda tem sido tudo menos racional e reflexivo sobre as tragédias do passado. Não são os erros que chateiam. É a atitude de se passarem décadas e décadas e décadas a cometer as mesmas argoladas, a apostar nos mesmos cavalos de batalha, a abandonar a análise (e a crítica) da dinâmica motriz das sociedades contemporâneas...


Joao Valente Aguiar num comentario no blogue Vias de Facto

22 fevereiro 2013

A democracia do PS

Pedro Estêvão disse...

Paulo, experimente ver a coisa por um outro ângulo: a cada vez maior dificuldade da classe política em lidar com manifestações pacíficas, como foi a do ISCTE.

Condenar uma manifestação em que nada se fez para além de cantar a Grândola, bater palmas a compasso e mandar um ou dois piropos é que não me parece muito compatível com um espírito democrático. E confesso que sinto algum desconforto por ver pessoas que me habituei a admirar seguirem essa linha de argumentação.

Uma coisa é dizer que reduzir a nossa intervenção a expressões de descontentamento deste tipo é um caminho estéril do ponto de vista político - algo com que concordo a 100%. Outra muito diferente é dizer que uma manifestação pacífica contra um ministro é um sinal de degradação da democracia - isso ultrapassa a minha compreensão.

20 de Fevereiro de 2013 à0 15:10

nos comentários do blogue de Paulo Pedroso

01 fevereiro 2013

O regresso aos mercados e o alargamento das maturidades: Perante o falhanço, a Austeridade continua


O chamado regresso aos mercados para financiamento do Estado, agora anunciado, ocorre num contexto em que a espiral recessiva da economia portuguesa se acentuou e são profundamente negativas as expectativas sobre a evolução do desemprego, das desigualdades, da colocação de muitas famílias abaixo do limiar de pobreza, da degradação salarial e da possibilidade de qualquer forma de recuperação económica.

Não se vislumbra nenhuma relação entre tal regresso e a construção de qualquer via de resposta positiva aos problemas dramáticos que afligem Portugal. Ele não resulta, muito pelo contrário, de um qualquer sucesso da política de austeridade.

Este ‘regresso aos mercados’ também não põe fim à recessão e à destruição de emprego, não assegura a sustentabilidade da dívida externa portuguesa, não reduz a chantagem sobre o Estado Social, não resolve os problemas estruturais que conduziram à atual crise e não torna a economia portuguesa menos vulnerável a choques futuros que voltem a colocar-nos na dependência da intervenção externa.

Não é causa nem será consequência de um início do fim da espiral recessiva em que vivemos.

10 janeiro 2013

O mínimo decoro

Ora quem se coloca fora da lei está a pedir um tratamento fora da lei. Mas eles não estão apenas a pedir pedradas. Estão a pedir o confisco dos seus relvados, dos seus automóveis, das suas casas, das suas piscinas, dos seus valores mobiliários, dos seus quadros, dos seus cavalos, das suas jóias e luxos e a supressão de todas as mordomias. Não que isso seja economicamente relevante. Mas significa a reposição de um mínimo de decoro.

Ser-lhes-á então tarde para perceber que numa situação de ruptura a própria polícia mudará de campo. Certos jornalistas descobrirão escrúpulos éticos insuspeitados. Economistas e contabilistas virão dizer que foram mal interpretados e nunca proferiram aquelas coisas. Irromperão múltiplos vira-casacas e desertores da tirania de mercado, dispostos a pisar a livralhada de Milton Friedman e a cuspir no retrato emoldurado da Senhora Thatcher.
E lá terão as pessoas de bom senso de arriscar a reputação e a pele para evitar que se maltratem umas dúzias de plutocratas amedrontados e seus serviçais de fatinho, rojados pelo chão, de folha de cálculo à mostra.
Mário de Carvalho,Avé Portugal Mendigo, Senhora da Linha em Maré de Pobres 20.12.12

08 janeiro 2013

Paulo Rocha 1935-2012

"Ele havia Salazares, a Pide era mesmo ao lado do S.Luiz, a censura não estava longe, mas aquele dia rasgado, puro e limpo, o dia sob a ditadura em que vi os Verdes Anos.

E a rapariga, Ilda, arranca a camisola das mãos de Júlio, o rapaz, ele olha para ela e sabe que a perdeu, ela quebrou uma unha, a mão leva-a à boca, estão num baldio sobranceiro à cidade moderna, deveria ouvir-se ao longe o som das obras, não fosse esse dia domingo e dia de passeio das criadas de servir e dos rapazes de outras terras, em Lisboa por causa do tio ou de um padrinho, choveu, há poças de água, o céu está cinzento, o ar lavado depois da chuva, a guitarra não pára, às voltas e às voltas, voltas de amor perdido, voltas de peito à vida feito, de cabeça erguida, da valentia, cordas tensas da guitarra arrancadas até ao sabugo, sem parar, Carlos Paredes à guitarra, Nuno Bragança ao argumento, Pedro Tamen nos versos, Cunha Telles na produçã, gente cujo nome decorei, acabei por conhecer, ou com eles trabalhar, como o Paulo Rocha, o rapaz tímido e intenso, teimoso e vibrátil, sereno e cultíssimo, que passou a ser nosso, tão nosso neste filme para sempre nosso."

Jorge Silva Melo, Paulo Rocha: Verdes Anos, filme da minha vida in Século Passado, Cotovia, 2007

03 janeiro 2013

Melhores filmes vistos em 2012


 



                                              
 

        



 


 
Foram poucos flmes que o ano me trouxe ou me deixou ver. Esta é a pequena selecção, nenhum é deste ano e o filme do Desassossego tem de entrar apesar da ópera do Carrapatoso, apesar do final tão explicadinho.